Entre dois mundos que habitam em mim

Carrego dentro de mim duas forças que raramente caminham lado a lado:
o TDAH, com sua inquietude que jamais se cala,
e o TEA, com sua rigidez que me ancora em mares profundos.

É como viver entre dois mundos em constante colisão.
De um lado, a mente corre veloz,
rios caudalosos de pensamentos, ideias que transbordam,
centelhas criativas que me ardem sem trégua.
De outro, um olhar minucioso, quase absoluto,
que enxerga detalhes invisíveis aos olhos alheios,
mas que ergue muros entre mim e o que chamam de normalidade.

Viver assim é uma dança incerta,
um passo à frente e dois em espirais.
O mundo me pede linearidade,
mas eu sou feito de labirintos.
Exigem silêncio,
quando dentro de mim ecoa um coro de mil vozes.
Esperam simplicidade,
quando meu sentir é vasto,
feito de ondas que jamais se repetem.

Não é simples conviver com essa pluralidade de mim mesmo.
É desafiador vestir máscaras sociais
quando por dentro carrego universos em explosão.
Cada gesto, cada palavra, cada silêncio
é uma negociação entre o que sou e o que esperam de mim.

E, ainda assim, é desse caos que nasce minha força.
Sou contador: e os números me disciplinam.
Sou escritor: e a palavra me redime.
Sou poeta: e a poesia me salva.
No encontro entre o excesso e o silêncio,
no conflito entre o impulso e o recolhimento,
eu me reinvento.
Ser quem sou não é um fardo apenas:
é também um dom raro,
um sopro que me permite enxergar além,
criar além, sentir além.

Sou feito de paradoxos.
E é justamente neles
que encontro a beleza e o sentido de existir.

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