Crônica: O grito que ainda ecoa

O sete de setembro chega sempre vestido de verde e amarelo. Fala-se em independência, em um grito às margens do Ipiranga, e a história parece congelada na cena heroica de um príncipe erguendo a espada. Mas será que a independência coube inteira naquele gesto?
Dois séculos depois, ainda há correntes invisíveis. Não são mais as de Portugal, mas as da desigualdade, da corrupção, do descaso. A liberdade que se proclama nos desfiles nem sempre chega ao prato do trabalhador, à carteira do estudante, ao leito de hospital.
No entanto, há também outro lado: o da esperança que insiste. O Brasil é feito de gente que madruga para vender pão, que inventa música na batucada da esquina, que transforma dor em samba, que resiste com humor. Essa força silenciosa é, talvez, a verdadeira independência: não aceitar a resignação, não ceder à miséria, acreditar que amanhã pode ser diferente.
Sete de setembro, então, não é apenas memória de um grito passado. É desafio presente: fazer da independência uma realidade para todos. Enquanto houver fome, injustiça e silêncio forçado, o grito ainda ecoa incompleto.
Talvez a verdadeira pátria se revele não na espada erguida, mas na caneta que assina políticas justas, no livro aberto de uma criança, na mesa farta de uma família. Porque independência, afinal, não se proclama só uma vez — constrói-se todo dia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima