Eta fartura, meu Deus!
É de janeiro a janeiro
Vivendo a judiação
Tanta fartura na mesa
Farta arroz, farta feijão.
Farta o café da manhã
Farta açúcar e farta pão
Farta o leite da criança
Pro gado farta a ração.
Eta fartança, meu Deus!
Não dá nem pra reclamar
Pois farta força na voz…
Farta remédio pro guri
Farta teto e farta chão
Também farta respeito
Com o povo desta nação.
Farta amor e amizade
Também farta compaixão
Farta aprender fazer conta
Saber fazer divisão.
Dá medo o preço do gás,
Tem que correr pro carvão
Até energia farta
A prova é o “apagão”.
Farta o fraco ficar forte
Pra agüentar o rojão
Farta o Sul ligar pro Norte
Farta viver como irmão.
Farta chover no nordeste
Farta molhar o sertão
Farta respeitar o índio
Farta aprender pedir perdão.
Farta rezar pro pai-nosso
Pra receber a bênção
Farta sorrir de verdade
Pra alegrar o coração.
Também farta encher a pança
Pra poder mexer a mão
Farta o mínimo virar máximo
Pra superar a inflação.
Farta mesmo é ter coragem
Pra gritar e dizer não!
Farta vergonha na cara
No dia da eleição.
Eta país farto, meu Deus!
Tanta fartura…
Farta tudo!
Só não farta corrupção.
O povo está farto disso!
(PAIVA, Carlos. In Inspirações. Gráfica Brasil:2001, p.33-35)